UEB: ENTRE A RAZÃO E A DISSOLUÇÃO

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Uma comissão oficialmente nomeada de voluntários da “UEB – União dos Escoteiros do Brasil” lançou recentemente a minuta de um documento que trata de novos princípios do Movimento Escoteiro nessa que é a maior associação nacional voltada à prática do escotismo.
O documento, que irá à votação em assembleia nacional extraordinária marcada para 12/09/2021, chama a atenção por substituir a ideia de “deveres para com Deus, para com o próximo e para consigo mesmo” pela ideia de “relação para com a espiritualidade, para com o próximo e para consigo mesmo”.
Fato é que não se trata de mera alteração terminológica (troca da palavra “dever” pela palavra “relação”).
Ao se mudar o significante, de “dever” para “relação”, se muda o significado. E isso, em se tratando de “princípios” em uma associação voltada a auxiliar a família na educação dos jovens (Regra 011 do “POR”), tem sérias implicações, eis que se retira o conteúdo moral da proposta educativa.
Dito de outra forma, a proposta educativa da associação sai do mundo do “dever ser” (ético) para o mundo do “ser” (relação meramente existencial e amoral).
Ao se efetuar tal alteração, por óbvio, se deixa o campo da educação moral, que é um elemento essencial do Método Escoteiro concebido pelo fundador do Movimento Escoteiro Robert Baden-Powell e formalmente adotado pela associação na Regra 001 do “POR”.
Em uma tradicional associação de educação não formal, como é o caso da UEB, o ato de adotar, em nível principiológico, o “relativismo moral” traz consigo diversos perigos, dentre os quais destacamos dois: 1) retira-se a “bússola moral” que fundamenta a projeto educativo voltado aos jovens em apoio às suas famílias; 2) retira-se um importante elemento de formação de consensos no âmbito da associação, abrindo-se espaço para uma infinidade de interpretações quanto aos fundamentos do Movimento, o que é potencial gerador de conflitos.
O professor de Harvard William Ury, em sua famosa obra “Como Chegar ao Sim”, destaca a necessidade de, em qualquer negociação, buscar-se pontos de consenso a fim de se alcançar coesão social. Essa “ancoragem” fundamental não pode ser relativa, sob pena de se instalar o caos, haja vista que, ao se admitir o relativismo, admite-se, “por tabela”, que cada um dos envolvidos na realização dos objetivos da instituição (no caso, os associados) tenha plena legitimidade para tentar impor aos demais sua visão de mundo particular. Isso é gravíssimo e pode enfraquecer, ao ponto de dissolver, qualquer grupo social.
Ademais, importante frisar, a proposta de alteração principiológica guarda em si uma profunda contradição lógica no que toca à espiritualidade ao admitir o exercício de uma “espiritualidade sem orientação espiritual” (sic).
Ora, em que pese a advertência clara de B-P quanto aos “perigos da irreligião” na obra “Caminho Para o Sucesso” (pág. 169 e seguintes, 7a. ed. UEB, 2013), a proposta da comissão oficial da UEB não apenas dá o “sinal verde” para a abolição do incentivo ao jovem para que busque uma religião, de acordo com as famílias, como também cria uma contradição insanável no que toca à espiritualidade, o que faz, talvez, ao confundir “ausência de orientação espiritual” com “ausência de religião”, que são expressões absolutamente diferentes.
Evidentemente que são louváveis iniciativas voltadas a inclusão, na referida associação, de jovens cujas famílias têm diferentes credos.
Todavia, essa inclusão deve ser lógica, racional e respeitosa ao método proposto pelo Fundador o qual, como dito, foi formalmente adotado pela associação na Regra 001 do “POR”.
Portanto, é fundamental que os associados estejam atentos a essa proposta que será posta em votação em setembro próximo, lembrando que a aprovação da mesma poderá abrir caminho para futuras alterações na “Promessa Escoteira” pelo próprio Conselho de Administração Nacional (“CAN”), com um risco grave para os rumos da associação que, neste momento, precisa mais do que nunca manter sua coesão em torno dos princípios fundamentais de sua existência.
(Fernando Borges de Moraes, advogado e voluntário escoteiro UEB/AM).
16/07/2021.

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