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Aço estrangeiro, sobretudo da China, pressiona indústria nacional e provoca reestruturação de estratégia da Gerdau; multinacional brasileira manterá investimentos apenas nos EUA
A Gerdau, uma das maiores produtoras de aço das Américas, anunciou nesta sexta-feira (1º de agosto de 2025) que irá reduzir significativamente seus investimentos no Brasil a partir de 2026. A decisão vem acompanhada da confirmação de que 1.500 trabalhadores já foram demitidos no país somente neste ano. Segundo a empresa, a medida é consequência direta do aumento expressivo das importações de aço, especialmente de origem chinesa, e da ausência de medidas eficazes do governo federal para proteger o setor siderúrgico nacional.
A companhia declarou ainda que, diante desse cenário, a operação da Gerdau nos Estados Unidos continuará recebendo aportes e investimentos regulares, o que reforça a diferença de ambientes de negócios entre os dois países. No Brasil, segundo a empresa, o “desleal avanço do aço estrangeiro” tem colocado em xeque a viabilidade de manter linhas de produção ativas.
Importações em alta e concorrência desleal
O principal ponto de crítica da Gerdau recai sobre a falta de defesa comercial por parte do governo brasileiro, que, de acordo com a companhia, tem permitido uma enxurrada de aço importado, muitas vezes com preços subsidiados por seus países de origem, o que torna a concorrência inviável.
De acordo com dados do Instituto Aço Brasil, o volume de aço importado cresceu 46% no primeiro semestre de 2025 em comparação ao mesmo período de 2024. A China lidera esse movimento, seguida por Turquia e Rússia. O setor siderúrgico nacional já vinha alertando há meses sobre os riscos de paralisações, cortes de empregos e ociosidade elevada nas plantas industriais.
Demissões e impacto econômico
A Gerdau confirmou que já demitiu 1.500 trabalhadores no Brasil em 2025, e não descarta novas dispensas caso o cenário de mercado não mude. Embora não tenha detalhado os locais mais afetados, estima-se que unidades nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul tenham sido impactadas.
Em comunicado, a empresa afirmou:
“Estamos enfrentando uma concorrência desleal que tem impactado fortemente a sustentabilidade da indústria brasileira do aço. Sem uma resposta adequada do governo, somos forçados a redirecionar nossos investimentos para mercados mais estáveis e com ambiente regulatório mais previsível.”
Cobrança ao governo federal
A Gerdau reiterou pedidos por ações de defesa comercial imediatas, como a imposição de tarifas antidumping, cotas de importação ou salvaguardas temporárias, que já foram adotadas por outros países em defesa de suas indústrias siderúrgicas.
A companhia também cobra celeridade nos processos de investigação da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), que ainda analisa pedidos de aplicação de medidas contra importações de determinados produtos siderúrgicos.
Em fevereiro, executivos da Gerdau já haviam se reunido com representantes do governo federal e alertado que, sem uma resposta rápida, a empresa avaliaria rever seus planos de investimento e reorganizar sua operação no país. A decisão agora anunciada concretiza esse alerta.
Contraste com os EUA
Enquanto suspende investimentos no Brasil, a Gerdau mantém uma postura expansionista nos Estados Unidos, onde o setor siderúrgico é protegido por tarifas de importação e incentivos do governo federal. A empresa possui unidades no Texas e no Tennessee, onde executa projetos de modernização tecnológica e expansão da capacidade produtiva.
Analistas do setor afirmam que o ambiente regulatório mais previsível, aliada à proteção da indústria nacional, tem tornado o mercado norte-americano mais atrativo para empresas como a Gerdau, que busca rentabilidade e segurança jurídica.
Repercussão e temor de efeito cascata
A decisão da Gerdau gerou preocupação entre representantes da indústria e economistas. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Instituto Aço Brasil reforçaram o pedido por ações urgentes do governo para conter a perda de competitividade da indústria nacional.
Há o temor de que outras siderúrgicas sigam o mesmo caminho, promovendo cortes de empregos e investimentos, o que poderá comprometer a cadeia de fornecimento, o mercado interno e a balança comercial brasileira.
O que diz o governo
Até o momento, o governo federal não se pronunciou oficialmente sobre a decisão da Gerdau. Fontes do MDIC, no entanto, indicam que há pressão interna para acelerar as investigações sobre dumping e subsídios praticados por países exportadores de aço ao Brasil.
Conclusão
O anúncio da Gerdau marca um ponto de inflexão preocupante para a indústria nacional, que enfrenta desafios externos crescentes e cobra uma postura mais proativa do governo. A permanência dos investimentos nos EUA e o corte no Brasil evidenciam uma mudança estratégica de foco por parte da companhia, que vê no mercado norte-americano condições mais favoráveis para crescer e manter sua competitividade global. Sem reação rápida, o Brasil corre o risco de ver seu setor siderúrgico perder ainda mais espaço no cenário internacional.